terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Tempo de cura

(Esse texto foi escrito no sábado, dia ..., sentado em um café na Rua do Brique da Redenção  - para quem conhece Porto Alegre. Por falta de tempo, somente hoje consegui postá-lo).

De repente uma onda de tristeza me invade... Penso n paulista de novo. Não queria, quero acreditar que não me apaixonei por ele, ou que ele não é como imaginava... Algo que o invalide e faça essa falta passar rápido.
Será que essa falta é dele ou é uma lacuna eu tenho dentro de mim e que dessa vez pensei que a pessoa dele iria preencher?
Será que sou um chato escrevendo isso? Será que vão me achar um porre lendo isso? Essa é uma das questões: passei a maior parte da minha vida tentando encontrar uma forma de “ser ao olhar do outro”: 1º ser aceito, depois de ser desejado, de ser bonito, de ser querido, e daí por diante... Mas não aprendi a simplesmente “ser” (ok, talvez eu e toda civilização ocidental). Isso me faz lembrar um trecho de “Mutações”, de Liv Ullman:

“O tempo todo estou tentando modificar-me. Pois sei que existem outras coisas bem diferentes daquelas que conheci. Gostaria de caminhar para isto. Encontrar a paz, de maneira a poder parar e escutar o que está dentro de mim, sem nenhuma influência”.

De todo modo, o que faço para deixar essa dor e essa falta que não sei exatamente onde reside, que assume a forma dele mas que não tenho certeza que se inicie na pessoa dele ou que nela isso de fato se solucionaria. Mas o fato é que existe uma dor... Que está doendo.
Sei que as dores de amor (ou de paixão) passam... Tenho uma amiga que se encerra em casa por dias, chorando, a cada história que se vai... Para depois sair, vibrante e plena, na luta pelo sustento (dela e dos filhos), tocando a vida adiante.  Isso, “saber que passa”, no fim das contas me deprime: então tudo quilo de tão especial, tudo o que me senti especial, tudo o que aquela pessoa teve de especial para mim... Passa?! Se desfaz? Fica na poeira?!
Sim, quando comecei a me aproximar do budismo, buscava exatamente isso: compreender como prática diária de vida que tudo na vida é passagem. Mas se passa, quer dizer que não tem valor? Que o valor conferido àquilo é ilusório? Já não sei... Não por acaso busquei, como profissão, uma arte que é efêmera por natureza (sou ator e professor de teatro). O teatro só acontece, só existe, no momento da performance viva “diante de” e “em comunhão com” um ou mais expectadores. Antes e depois não é teatro: antes é expectativa, depois é lembrança. Mas com as relações será igual? O antes é expectativa, projeção, fomentado pelo desejo, fantasia criada pela imaginação. O depois é a lembrança do fato: a história foi escrita! Assim, do modo como aconteceu! E se não houver um “aconteceu de novo” ou o acontecimento de um novo capítulo, é porque teve seu ponto final. E esse pode ser o momento de luto e tristeza. Ou do reconhecimento do choque entre expectativa e fato, entre o que era esperado e o que aconteceu. Talvez eu sofra por constatar que não teremos “novos capítulos”, que seriam as novas chances de complementar as lacunas entre fantasia e fato: “Sabe quilo que eu não curti tanto, embora pensasse que curtiria? Então, num próximo encontro eu esperava descobrir que, realmente, era bem como eu havia fantasiado”. NÃO!!!! É o que foi! Me decepcionou? Então tenho de encarar que me decepcionou!
Esses momentos de sofrimento me conduzem sempre a um mesmo ponto: TRABALHO SOBRE SI!  A cada vez que isso acontece, descubro mais sobre mim mesmo, ou sobre meus processos, e descubro mais pontos que preciso trabalhar (ou volto a velhos pontos já conhecidos, só que de um modo diferente). Minha recusa em reconhecer quando me decepciono com pessoas por quem sinto algum tipo de afeto (desde a amizade, a paixão ou admiração profissional) é tamanho que, por vezes, chego a imaginar uma explicação que justifica o outro, quando ele não está nem aí para o fato de me haver magoado.
Faço isso porque sou bonzinho? NÃO! (Até sou bonzinho, mas aqui creio que o motivo seja outro). Faço isso porque tenho um dominador por dentro, e ele não aceita que as pessoas sejam diferentes daquilo que imaginou: não aceita um “não sou do modo como você pensa que eu deva ser!”, dito através de atos mais do que por palavras, e fica forçando, dando–lhes mais uma chance de provar (ou de descobrirem) que no fundo são bem como ele imaginou que devam ser.
Obviamente esse dominador não domina ninguém além de mim mesmo, impedindo (ou atrasando) que eu parta definitivamente de experiências que me frustraram (seja por não ter tido o retorno afetivo esperado, ou por falta de afinidade sexual, ou por qualquer outro motivo). PORRA!!!! ME FRUSTROU!!! Não fiquei satisfeito, ou não fiquei tão satisfeito quanto imaginei que ficaria! Se não fiquei satisfeito, era que quem deveria estar partindo, no entanto, fico ali, sofrendo porque a pessoa não quis aproveitar a 2ª chance que eu lhe dei para ser como eu havia sonhado! (Onde se desliga isso?!).
Nesse momento estou sentado em um café na rua do Brique da Redenção (para quem conhece Porto Alegre), num lindo sábado ensolarado. Vim toma rum café e ler um pouco, para espairecer dessa dor... Na chegada senti necessidade de escrever, fui comprar caderno e caneta e... Vejo a vida passando à minha volta, o tempo todo... Agora “caiu essa ficha” do dominador interno (ela não é nova, á havia aparecido antes, com outra roupagem). E a partir dessa percepção, não tenho mais o que dizer, para esse momento. Preciso refletir e sentir (não necessariamente nessa ordem) para depois voltar a escrever sobre isso, porque são águas profundas, que agora se acalmaram. Preciso mergulhar nelas!

Abração, e obrigado pela visita.


PS- Isso foi escrito há 4 dias, mas só pude postar hoje. Ontem pela noite, o paulista me ligou, para contar que o ex-namorado que o machucou tanto o procurou várias vezes, queria conversar. Contou também que no final de semana em que estava em São Paulo (capital) se encontraram, e ele decidiu dar uma chance de reaproximação, passarão alguns dias juntos no Rio, para ver qual é a situação. Gostei da honestidade, mas ... Ainda estou digerindo isso tudo. E certamente logo terei muito para escrever. Mas, de um modo ou de outro, começou o período de cura.

12 comentários:

  1. Meu amigo,
    Todos nós somos responsáveis em um jogo a dois! E vc está desculpando a parte da responsabilidade do outro e assumindo para si a responsabilidade dele! Cabe a ele e somente a ele resolver as questões do passado! Ser amigo-consolador-analisante desse passado não cabe a vc agora, cabe ao terapeuta do paulista, caso ele tenha algum!
    Quanto a linha da sua análise pessoal eu só posso dizer que é perfeita, apenas acrescentaria um ponto a respeito do dominador interno: ninguem constroi um castelo nas nuvens se não foi dado pelo menos um tijolo para a pessoa! E o tijolo foi dado pelo paulista! Não se sinta incomodado ou apressado em curar a dor de amor! Hoje em dia sofrer por ter sido decepcionado por alguem parece que virou um ato de covardia. Quem sofre por uma decepção mostra que continua capaz de amar. A grande maioria prefere se entorpecer com mil "amores" e acaba por perder essa linda capacidade que é entregar-se ao outro genuinamente

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    1. Obrigado, José Antonio. Desde piá tenho essas dificuldade em reconhecer como válido o meu sofrimento (mais assunto para minha terapia, rsrsrsr), daí achoque é bobagem, que estou errado, criando drama, que nem deveria estar sofrendo tanto. O que me enlouquece mais ainda. bom receber uma outra opinião, me deixa em paz comigo mesmo.

      Mega abração!

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  2. "Mas se passa, quer dizer que não tem valor?" Justamente o contrário! Fosse assim, todas as pessoas que morrem não teriam valor, em última análise. Ou seja, ninguém teria. Nenhuma experiência teria. 'Bora fazer passar de vez essa fase de querer que tudo seja eterno e exatamente como você "expectatou". Última pessoa que eu conheci e que era desse jeito (além de ser meio canastrão) acabou virando Darth Vader. :-) Beijão.

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    1. KKKKKKKKKKKKKKKKK, como assim "virando Darth Vader?", rsrsrsrs. Valeu , queridão, me fez sorrir aqui. Só não sei se eu deveria ir ao teu blog para responder, ou respondo por aqui... ainda sou novo nesse mundo de blogs, rsrsrsrs.

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    2. O Anakin não queria aceitar que não tinha controle sobre os fatos da vida e isso o levou ao Lado Neg... Sombrio da Força, capisce?

      Sobre a resposta, depende de você: se estabelecer o padrão de responder por aqui, o povo acaba voltando pra ver. Eu volto, pelo menos.

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  3. Tem uma frase que um amigo me disse uma vez e que carrego comigo pra vida: ex bom é ex morto! Porque eles simplesmente phodem com a gente, deixam toda uma série de respostas reflexas, 'n' fatores a se pensar e mais uma porrada de danos à nossa auto-estima pra depois reaparecerem com o maior complexo de the walking dead querendo te comer. O "Paulista" errou lindo desabafando contigo. Entendo que honestidade foi boa, mas você não precisava saber das dúvidas dele, só te deu mais mais o quê pensar. Desnecessário... Além dele estar cometendo o erro que todo mundo comete e só aceita depois que vê que cagou no maiô: voltar com ex. É um grande mais do mesmo e mais insatisfações futuras a serem somadas à bagagem do 'novo-velho-namoro'. Continuo embevecido com tua maneira de analisar os fatos. Keep going, man! rs

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    1. Valeu, Alan. Pô, "embevecido"... Agora me senti, rsrsrsr. Mega abração, queridão! E de noite retribuo a visita, pois... ACABO DE ENTRAR EM FÉRIAS, rsrsrsrs. Até.

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    2. Discordo veementemente. O que o Alan descreve é somente 1 das possibilidades, baseada (talvez) em términos não-amistosos. Por que não voltar com um ex de quem a gente se separou amigavelmente? É impossível se separar amigavelmente? Claro que não. E nem seria "mais do mesmo": a experiência da separação e o próprio tempo separado pode muito bem servir para amadurecer e polir os dois parceiros, propiciando uma nova relação mais bacana, mais honesta, mais aberta no que eles antes escondiam de insatisfações, etc., etc. As possibilidades existem, são inúmeras e - como você bem disse sobre ser ativo/passivo com a e b - cada relacionamento é único.

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  4. Acabo de ler sobre este filme que estreia este fds (em SP, pelo menos) e me pareceu bem bacana: http://omelete.uol.com.br/cinema/questao-de-tempo-critica/#.UrQdwyRdWSp) Trailer http://youtu.be/u2PUMA6nFWk)

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    1. Li a sinopse, vi o trailer e entendi a relação do filme com o contexto, aqui. Também quero assistir... Só ler a sinopse já me fez refletir. Abração, Eduardo. Valeu!

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    2. A propósito: agora são 9:45 da manhã e minha postagem foi marcada como feita às 03;36 (???) . que coisa doida isso, rsrsrrs.

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    3. Cê tem que ir nas Configurações do blog/Idioma e Formatação e ali escolher o fuso horário correto (GMT -3 São Paulo, por exemplo). Se não souber, manda um email que eu mando fotinho de onde fica.

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