quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

PASSIVO OU ATIVO?

Comecei a fazer as pazes com essa questão no final do ano passado. Já havia desempenhado os dois papéis desse os 18 anos, ainda assim percebia um “desconforto moral” nisso tudo. De algum modo , sempre pairava uma imagem relacionada a “ser machucado” (embora eu nunca tenha sido): como alguém poderia gostar de ser machucado? Relembrando como soube do sexo anal, entendo o motivo: quando criança, tentando nos ensinar a nos protegermos de abusos de crianças mais velhas (inclusive no banheiro da escola), minha mãe nos contava relatos horríveis, que resultava em imagens de ”sangue, excremento e tripas ‘saindo para fora’ (perdão pelo pleonasmo). Eu tinha 5 anos e não sabia nem o que eram tripas, pensava que fossem ossos. Resultado: nunca fui assediado no banheiro da escola, mas o mal que esse tipo de relato me fez... ainda estou me limpando dele, rsrsrsrs.
De todo modo cresci, me descobri gay e chegou o momento em que tive de encarar que tinha queria experimentar esse papel. O encarei, mas cheio de receios: sempre ficava no comando, por medo que o cara me machucasse. Não me entregava para o ato.
Percebo agora que também havia uma carga de imagens que invalidam a masculinidade para quem transa passivo (não curto esse nome, estou usando aqui por uma questão de praticidade: passivo é quem fica lá pardo, sem fazer nada, só esperando pelo outro. Eu chamaria isso de “ruim de cama”, mesmo. Enfim... continuemos). Tanto que algumas expressões se referem a isso são “fazer o outro de mulher” e coisas do gênero. Já vi conversar entre casais gays onde um amigo pergunta: mas qual de vocês é o homem e qual é a mulher. (!!!!!). Resposta: os dois, nenhum. Olha o padrão heteronormativo aí! Isso sempre me incomodou, pois não abro mão de minha masculinidade, gosto dela, não pela preocupação de “não dar na vista que sou gay”. Por uma questão de identidade, de curtição... sei lá, é assim que me gosto. Mas isso parecia colidir com permitir (e desejar) ser penetrado pelo parceiro. A tal ponto isso virou um bloqueio para mim, que parecia que penetrar o outro era fazer mala ele, daí... houve ocasiões em que ocara queria ser penetrado por mim e eu não conseguia, porque sentia que estaria fazendo mal a ele, fosse machucando-o fisicamente, fosse relegando-o a um papel indigno (haja terapia!!!).
Foi quando percebi como faltam representações culturais mais poéticas ou dignas do papel passivo (Ok, vamos chamar de “receptivo”, daqui por diante. Não consigo escrever passivo sem ficar incomodado). Boa parte dessa confusão se dissolveu quando assisti ao filme “Triângulo amoroso”, (Drei, Alemanha, de Tom Tykwer – de “O perfume” e “Corra, Lola, corra”). Nele aparece uma cena extremamente sensível, bela e erótica do momento em que os rapazes transam e um deles é receptivo pela primeira vez. Assistir à bela representação desse ato desfez muita confusão na minha mente.
Por hora tenho de parar, preparar almoço da filha, etc. Gostaria de continuar essa reflexão, seja nos comentários, seja em nova postagem.
Como o filme não se encontra na maioria das locadoras, é mais “cult”, deixo aqui o link para que precisar baixa-lo.

http://www.acheidownload.biz/?s=tri%C3%A2ngulo+amoroso

Abração e, novamente, obrigado pela visita.

12 comentários:

  1. Nunca tive esse problema, mas outro dia me surpreendi com um comentário de um amigo que chamava a atenção para o fato de que "dar o cu" não torna ninguém gay (e muito menos "mulherzinha")! Todo mundo tem cu! Todo mundo tem (pode ter) prazer anal! Se os héteros (e os gays "ativos") não se aproveitam disso, é por pura burrice (preconceito)!

    P.S.: É o cu que "come" o pau, não o contrário. Inclusive é o cu que é parte do mesmo sistema digestório que a boca, certo?

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    1. Super concordo com seu amigo, Eduardo! Ser receptivo (aderindo ao termo do Cernnunnos) vai muito mais além disso. É questão de se permitir, de ser livre. Burrice normativista de héteros impregnada nos pré-conceitos gays. Haja terapia. rs

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  2. Sabe que eu acredito que vc precisa de pouca ou nenhuma terapia? Vc é mais consciente do que muito gay que arrota sabedoria ( perdão pela falta de poesia.....esses dias de praia e caipirinha tem deixado a minha lingua solta demais...rs)
    Bjs

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Relaxar da elegância também é saudável, rsrsrsrsrs.
      Obrigado, José Antonio.
      Abração, aguardando tua volta e teus escritos.

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    3. Aí é que está a grande questão.....Quando desmonto da elegância...eu continuo elegante....rsrs....pergunte ao Senhor Edu Ardo!!!
      Precisamos Skypear!
      bjs

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    4. Rsrsrsrs. E como te passo meu skype?

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    5. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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    6. Na dúvida, vou excluir tua mensagem daqui (com teu skype), pois creio que ela fique visível para todos,não?

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    7. Estranho......não chegou nenhum pedido seu no meu skype! Agradeço por ter retirado o endereço!

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