A vida é passagem feita de encontros, tempo de convivência e
despedida: o tempo de convivência varia de horas ou mesmo minuto até toda uma
vida (que, em si, tb pode durar de minutos a muitas décadas). As relações se
constituem disso, não apenas as amorosas-sexuais: também as de amizade e os
laços familiares, e o desapego está em pauta, na atualidade, chegando a ser
banalizado e virar palavra de ordem (numa aplicação simplista de um conceito mais
profundo). E é esse o ponto que vem dando um nó nas minhas ideias, esse ano: a
relação entre afeto e desapego, ou entre envolvimento, apego, dependência e
posse. Que são coisas distintas, porém facilmente confundidas, e eu podem habitar
ao mesmo tempo uma mesma pessoa ou situação.
Conheço minha dificuldade em me desligar de pessoas, situações
e coisas. Sou, tradicionalmente, um cara atrasado. Por descaso com os meus
compromissos? Não, por dificuldade em sair dos lugares de onde estou: chegava alguns
minutos depois do horário no trabalho e saía muito depois da hora, ficava
finalizando coisas, arrumando o espaço, enfim... Já estava trintão quando
entendi que tinha dificuldade em me desligar dos ambientes. Com objetos, então,
nem se fala: sou um acumulador. Em janeiro, ao me separar depois de um casamento
de 12 anos, uma triagem foi necessária para fazer a mudança. As coisas que
descobri guardadas em caixas, que eu nem lembrava haver mantido... Em alguns
casos, isso chegou a parecer mórbido (como, por exemplo, constatar que além de
ter guardado certos brinquedos da minha infância, guardei alguns da minha irmã,
temendo que ela posteriormente viesse a se arrepender de tê-los jogado fora. Se
isso não é mórbido, nada mais é, rsrsrsrs).
O mesmo processo se dá, em mim, com pessoas: se tenho um
encontro e um convívio bom, prazeroso, fico angustiado com o seu término, tenho
dificuldade em seguir meu rumo e cuidar da minha vida. Quero garantir, ou
deixar “alinhavado” algum tipo de continuidade. Claro que isso está ligado a
uma grande ansiedade, e (principalmente quando se trata de um encontro amoroso)
percebo que consegui amadurecer nesse sentido, passando de um estágio mais
superficial e imaturo para outro, um pouco mais centrado. Inicialmente, eu
projetava na pessoa toda uma expectativa, uma fantasia romântica que descobri
ser fruto da minha carência. Parecia que finalmente eu iria realizar, com
aquela pessoa, o meu sonho. Demorei a entender que, ao invés de realizar COM aquela
pessoa, eu tentava realizar NAQUELA pessoa um sonho que, como eu escrevi, era meu.
Ao outro acabava restando um papel indigno de coadjuvante caso alguma relação
continuasse dali, não de coautor dessa relação. Além disso, me levava a conferir
valor a pessoas que raramente o mereciam, pois eu não chegava a conhece-las, na
verdade mal conseguia ver a pessoa que tinha à minha frente: via a projeção da
minha fantasia sobre elas (o que me faz lembrar o ótimo “Mulher Moderna”, de
Grace Gianoukas, http://www.youtube.com/watch?v=5FzZsh0lEF8
). RESULTADO: frustração e
sofrimento. [continua]
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