terça-feira, 12 de agosto de 2014

Então... Dia dos pais!

Hoje o texto vai sair bem confuso, pois não estou redigindo, revendo e reescrevendo.

Desde meus 20 anos percebo que tenho uma atitude paternal com meus amigos. Em 2013 conversava com um camarada "das antigas" e contei que a paternidade foia grande experiência da minha vida, quando ele largou essa: "Grande novidade! Nos anos 80 já comentávamos que tu nasceu para ser pai, pelo modo como cuidavas dos amigos". Aquilo foi uma surpresa para mim, embora eu entendesse o que ele dizia. De algum modo isso retornou à minha mente no último final de semana.

Então... chegou o dia dos pais. Em meio ao turbilhão que está minha vida, gerando muita ansiedade porque eu queria curtir muito esse dia ao lado da minha filha e ao mesmo tempo sentia que estava muito ansioso, ausente de mim. E alguns fatores não ajudaram: a amiga que, na noite anterior, bebeu demais e brigou comigo de modo agressivo,  constrangendo toda mesa. Ou a chuva do domingo, ou a filha que estava estranhamente distante naquele dia, preferindo brincar com os primos a ficar mais comigo. E eu carente e ansioso, rsrsrs. Na outra ponta dessa questão de paternidades, meu pai, que tem demonstrado considerável dificuldade em compartilhar alguns momentos conosco: assim que pode, foge para o quarto de ver televisão e fica por lá.

Mas eu estava decidido a serenar o coração e desfrutar da companhia daquela pessoinha, pois sabia que ao final da tarde teria de levá-la para a casa da mãe. E na segunda metade da tarde ela também serenou e curtiu comigo. E chegou o temido final de tarde e a levei para a mãe, seguindo depois para a casa de uma amiga que me chamou para tomar um café. E foi lá que se deu um daqueles presentões que a vida nos dábem no momento em que precisamos, e que tem um efeito bombástico. Minha amiga, com a irmã, preparou uma mesa de café de dia dos pais para me esperar, e me recebeu dizendo: "como não temos mais pai, tu és o mais próximo de um pai, não só para nós mas também para (citou amigas cujo pai já falecera ou que não conheceram seus pais), além do paizão maravilhoso que tu és para tua filha".

E tudo veio à minha mente, então: o modo como me relaciono e cuido de meus amigos. A aluna que disse "Eu não tive pai, mas tua filha vai ser uma grande filha, porque tu és um grande pai. E um grande professor". a angústia que tenho sentido porque meu pai não consegue compartilhar seus momentos conosco,  a relação que desenvolvemos eu e minha filha, e... Fico um pouco mais tranquilo com toda essa questão de meu pai, porque meu grande medo é que seu tempo esteja terminando e não estejamos aproveitando o tempo que nos resta (não entrarei em detalhes sobre isso), mas sei eu essa referência de paternalidade veio da relação que eu e meu pai desenvolvemos. Ele está misturado dentro de mim, carrego ele (ou essa herança que me deixou) sob a pele, misturado no sangue, nas fibras dos músculos. E então me sinto em paz, porque sei que, mesmo que eu não consiga que ele assista um filme ao meu lado,  e apesar do medo de uma partida repentina, nosso tempo de convívio já está internalizado em mim, o tempo que tivemos juntos já está muito bem aproveitado e presente na estrutura do meu ser.

Penso nos textos que o HHP escreveu sobe sua relação com o pai, e penso na importância e nos diferentes papéis ou funções que essa relação pode ganhar na nossa constituição de homens que amam homens e que são ou desejam ser pais. Porque pai, homossexualidade e paternidade são três áreas campos muito profundos e amplos da masculinidade.

Ainda pensando sobre isso... Continuo depois.

Abraços!

PS - Dessa vez não revisei, escrevi e estou publicando. Amanhã certamente verei toneladas de erros e os repararei.

domingo, 27 de julho de 2014

Poema do Mia Couto

Então, ainda no clima da postagem anterior, encontro um poema do Mia Couto (encontro é modo de dizer: um amigo postou no face) e tive de trazê-lo para cá.

"Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.
Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.
A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos."
Mia Couto - 'O Espelho', no livro "Idades, Cidades e Divindades", Editora Caminho, Lisboa, Portugal, 2007.

terça-feira, 22 de julho de 2014

ENTÃO É “ÀS GANHAS”[i]?


Ultimamente tenho experimentado um tipo de inquietação a cada vez que me olho no espelho: olheiras, sinais do tempo eu ontem não estavam lá, agora marcam sua presença de modo beeeeem enfático. De início encarei como algo temporário, consequência da sobrecarga de trabalho (no início desse ano minha jornada praticamente dobrou). “Quando voltar a dormir bem isso some”, pensei. Até o momento foram poucas as noites com mais de 6 horas de sono, mas percebi que talvez não seja bem como pensei: não se trata de um sinal passageiro, algo “que não deveria estar ali, que surgiu por um equívoco que será reparado”: as coisas estão certas, e tão em seu lugar, inclusive as marcas do tempo: estou com 43 anos.
Percebo como isso me assusta, para além da vaidade: está me mostrando que o tempo está passando, de verdade, sem volta. Vejo isso a cada sinal positivo ou negativo: cada demonstração de desenvolvimento de minha filha, cada mostra de que meu corpo requer mais cuidado, a cada vez que me vejo mantendo o equilíbrio em situações que há pouco tempo me abalavam profundamente, e assim por diante. Olho para minhas últimas publicações aqui e vejo o quanto isso me parece distante... “Mas foi há pouco mais de meio ano!”. Entendo que toda história do paulista tenha sido uma espécie de “portal” para mim, que coisas mudaram profundamente a partir daquela experiência, mas ainda encontro dificuldade em entender como aquilo pode se tornar assim tão importante... E em meio todos esses questionamentos passo novamente diante do espelho e levo outro susto.
“Esse não é mais o rosto que sempre vi no espelho”, penso eu. E percebi, hoje, que essa afirmação parte de uma inverdade: nunca houve um rosto que sempre vi no espelho, assim como nunca houve uma mesma relação (no sentido de constância) com a imagem refletida. Desde a infância, passando por diversas fases da vida, mudou constantemente o “gostar ou não gostar” da própria imagem, os modos de apreciação de si mesmo, o sentimento de vazio e tantas outras variações dessa cosia tão complexa que é a relação com a visão de si. O princípio budista do desapego se revela para mim de outro modo: não apenas se desapegar da vaidade, mas de uma espécie de identidade que também muda a cada dia. O homem que em 2013 não sabia como administraria sua vida pessoal e profissional de recém-separado, que se deslumbrou em se redescobrir bonito e atraindo olhares de outros homens (e passou pela cama de vários desses), que buscava se divertir sem esperar muito dos outros e “quebrou a cara” porque se apaixonou e esperou muito de quem não poderia lhe dar mais... Esse homem deu vez a um outro, que ainda não sei bem reconhecer. Um outro que está muito absorvido pelo trabalho, que busca estruturar sua vida de outro modo, que já saiu do “estado provisório” de quem separou há pouco. Que sente com clareza a necessidade de uma relação com troca afetiva consistente, que já não se abala com qualquer elogio ou demonstração de valorização. Mas que também tem seus dias em que passa horas de pau duro, louco para trepar com um cara bem gostoso e de bom papo.
De um modo estranho, um tanto surpreendente para mim, me sinto retornando à vida. MAS EU NEM SABIA QUE NÃO ME SENTIA VIVO!!!! Pois é, eu estava vivo sim, mas cuidando de um lado que ficou “descoberto” por muito tempo. Que eu neguei (talvez por toda vida): o da questão material. Nunca faltou nada a mim nem à minha família, mas chegou o momento de querer um pouco mais, de batalhar para ter um pouco mais. E percebo que esse foi um doa aspectos pelos quais o paulista me marcou muito: o lado batalhador, de conquistas materiais. E foi desse aspecto que cuidei nessa primeira metade do ano. Só que todos os outros aspectos ficaram carentes, precisando de atenção. Hora de encontrar o centramento, o equilíbrio, de se dar tempo de conviver com os amigos, de conhecer gente legal, de vivenciar a sexualidade, tudo de modo harmônico, sem que as balanças tenham de pender tanto somente para um prato.
E curtir muito meu hoje: esse homem quarentão que o espelho me mostra e que, mesmo sem ter mais a cara de guri que ostentou até há pouco, me agrada bastante. Tenho de vivê-lo tanto quanto puder, pois amanhã um outro me aguarda no espelho, diferente, com outras marcas, outras perdas mas também outros ganhos.  E ele também não ficará ali para sempre... E se tem algo que continuou, constante, desde o menino que fui, é a curiosidade em saber e saborear todos esses outros eus que a vida (e o espelho) guardam para me surpreender a cada dia.
Até a próxima.


[i] Expressão usada no Sul (não sei se em todo Brasil a utilizam) para o jogo de bolinha de gude. Significa que as bolinhas perdidas na partida pertencerão, definitivamente, ao vencedor. Não serão devolvidas ao final da partida.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

DIGNIDADE E PAZ DE ESPÍRITO

Sem maiores reflexões, só quero registrar um fato: a imensa paz de espírito que venho sentindo desde domingo, a sensação de harmonia interna, de paz. Em 2013 minha vida poderia ter virado um caos, tantas esferas a dar conta, tantas crises aconteceram. A sensação de gratidão é gigantesca, à energia superior que nos rege (independente do nome que cada um dê), aos amigos (virtuais ou presenciais) e familiares. Por fim, ao poeta e ao guerreiro que existe dentro de mim, que se recusou a deixar de ver beleza na vida, do mesmo modo que se recusou a desistir da batalha! Porque as crises ocorreram, minhas escolhas ou minha percepção nem sempre foram as mais indicadas ou sensatas, mas acabo o ano orgulhoso do modo como consegui lidar com isso tudo, dentro de minhas limitações.

Que 2014 permita essa sensação de dignidade e de paz de espírito a todos!

FELIZ ANO NOVO!