segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

APÓS A TOMADA DE DECISÃO, RECOLHENDO O TAPETE VERMELHO

Não sei que reação eu esperava dele, se esperava que ele fizesse algum movimento, sei lá! O fato foi que conseguiu me surpreender com a resposta. E conseguiu machucar... Mas foi a última vez. Momento de partir e de te deixar.



Dez minutos depois da primeira mensagem, ele enviou outra, dizendo que entendia perfeitamente, desculpando-se por não ter correspondido às minhas expectativas, afirmando que continuamos amigos. Isso não fez diferença: já não confio. E há poucas semanas, qualquer palavra que viesse dele recebia um grande significado da minha parte. De todo modo, já se passou um dia desde então. Como o bloqueei, nem ele pode me ver ou ver minhas postagens, nem eu as dele. E aí começo a perceber que, estranhamente, sinto falta de sua presença em minha vida. Fico revirando no facebook, como se em algum momento fosse encontrar suas fotos ou postagens. E começo a me questionar: que função esse homem estava cumprindo na minha vida, a ponto de eu buscar pelas suas postagens, mesmo quando sei que elas vão fazer eu me sentir ofendido e desvalorizado? Nos últimos dias, ao clicar para ver minha página inicial, já estava tenso pelo que iria ver.  

Contudo, olhando com mais atenção, percebo que desenvolvi uma relação de dependência, que foi gerando sofrimento mesmo antes da vinda dele a Porto Alegre. Já estava se estabelecendo uma relação abusiva ali, e preciso entender de que modo contribuí para isso. Decididamente não gosto de sofrer, então não é em busca disso que eu estou. É em busca do quê, então? Quando nosso papo começou a passar de safadeza para amizade, começamos a compartilhar experiências de vida, ele já havia passado por várias das experiências que estou passando. Coisa que estavam me assustando, deixando apreensivo e inseguro, ele já havia passado e, do seu modo, sido bem sucedido. Com o tempo a confiança foi aumentando, e eu me sentia muito seguro quando conversávamos, “não sentia medo da vida” pelos desafios que se apresentavam, quando conversávamos. Sentia que alguém me entendia, porque já havia atravessado situação parecida (me refiro à separação, filhos, contar aos filhos sobre ser gay, etc). E me sentia valorizado como homem, pela parte sexual que rolava entre nós. E foi assim que ele foi ganhando espaço na minha vida. E cada vez que o cel anunciava chegada de mensagem (eram várias por dia) eu me acendia. E comecei a esperar por essas mensagens, e a fica angustiado quando elas demoravam ou não chegavam.

Recordo que um dia ele escreveu muito, além das longas conversas ao telefone, que por vezes duravam 2 horas. No dia seguinte, respondeu minha mensagem muitas horas depois, de modo lacônico. Quando li aquilo eu soube que naquela noite ele sairia com outro homem. Foi a noite em eu ele me escreveu depois da meia noite, do banheiro do motel. Reconheço o mesmo padrão quando, depois de ter me ligado no dia 23 e no dia 24 desse mês, respondeu de modo telegráfico á mensagem eu envie no dia 25, via facebook. Dia 26 de manhã partiu para o Rio. Rola ali um padrão de procurar bastante antes de ir com outro cara, e quando chega perto dessa hora, as respostas já anunciam um afastamento. (esse relato é importante porque faz referência à questão da relação com o pai, que abordarei no final desse texto e na próxima postagem, já desvinculado da figura do pulista).

Voltando para o presente, começou assim um último processo: digerir esse momento, em que ele revelou (ou assumiu) sua pouca consideração por mim. Vejo que ele seguiu o seu caminho, um caminho legítimo (ao menos para ele).  E vejo o vazio do meu, como tentei preenchê-lo com ele. Não vivendo sua vida, mas de certo modo tornando-a eixo da minha: eu quis escrever o meu caminho ao seu lado. Que optou seguir em outra direção, uma estrada iniciada antes de me encontrar. Agora sinto o vazio, e ao mesmo tempo, minha história foi preenchida, inicialmente, com vivenciar sua falta. Isso me dava a sensação de “consistência”: a partir do sentimento de “ele não está aqui, e não estará, porque quer estar com o outro”, ficava mais nítida a sensação do “eu” que está aqui. A noção do indivíduo ficava mais nítida. Começa então um trabalho sobre mim, para entender porque esse indivíduo não se via nitidamente antes: isso abriu espaço para que o paulista entrasse na minha vida e ganhasse importância. A questão se desdobra então em duas: que vazio é esse que percebo no meu caminho (com tanta coisa que aconteceu, tantas batalhas sendo lutadas nesse ano de 2013, fico surpreso que eu ainda sentisse algum vazio!)? E como faço para reforçar esse “eu” que está trilhando sua senda, mas que parece sempre muito pronto a se ver como desvalorizado frente a uma pessoa encantadora que surja na sua frente. Mesmo que seja um saltimbanco de estrada.


E disso já houve uma consequência: o tapete vermelho não mais será estendido com tanta prontidão, um pouco de reserva fará bem, a partir de agora. Esse período de férias será fundamental para isso: cuidado de si, reconstrução e fortalecimento de mim! Porque já vi esse filme antes, então essa fragilidade minha precisa ser sanada não apenas para relacionamentos futuros, mas para mudar minha relação com o mundo que me cerca, a partir de agora. Trata-se de um modo de me relacionar com o mundo que abre brechas para situações abusivas como essa, que foi a manifestação desse fator na vida afetiva: olhando com atenção, percebo que isso tem outras manifestações em outras áreas, incluindo a profissional.
E chego ao ponto em eu percebo que, se continuar a escrever, o texto ficará chato (espero que já não tenha ficado), por que... Não tenho mais o que falar dele. Eu estava me preparando para me desintoxicar dele e não percebi que ele já foi, já partiu. Ou eu parti dele. De todo modo, estou mais livre e mais leve para seguir meu caminho, minha senda. Não sou ingênuo de acreditar que já esteja totalmente imune a ele, mais um motivo para me reforçar (até porque acredito que ele vai me procurar quando voltar do Rio: com aquele ego, não abrirá mão de uma presa assim facilmente). E se ele não aparecer, outros “paulistas” (desculpe aí, pessoal de SP) aparecerão.


Então, aqui eu me despeço de ti, paulista. Tu não vais mais ser referido aqui (apenas ilustrando a próxima postagem, como escrevi antes). Aprendi muito contigo, espero que tenhas aprendido algo comigo. Agora eu tenho de levar a minha pessoa para passear. 
Adeus!



TOMADA DE DECISÃO

(Estamos no final da saga do paulista, as postagens de hoje serão as últimas sobre ele. Depois... vejamos onde a vida nos leva).
Então, da noite de sábado para domingo, muitas fichas caíram. E fiquei impressionado ao perceber como o ego do paulista é gigante, como ele se sente o mobilizador do mundo, pensa que o faz girar. E também percebi que, como (creio) postei anteriormente, ele sabe fazer um uso muito consciente e hábil do facebook. O que deixa somente duas possibilidades:
1) Postar aquilo tudo, foi parte de um jogo cruel, sabendo que eu (e sabe lá quantos outros caras que ele deixou pendurados por aí) assistirei ao desfile de sua felicidade, colocando-se como objeto do desejo inatingível que resolveu ser feliz com outro. Ou,
2) Ele não fez por mal, estava tão focado na sua felicidade que nem pensou que poderia me ferir. Daí eu para e penso: 4 semanas antes ele estava hospedado na minha casa, transando loucamente comigo. Soube, depois disso, que me apaixonei por ele. A ponto de me ligar 10 dias antes para explicar que resolveu dar uma nova chance para o ex. E me ouviu por uma hora, contando o quanto eu havia sofrido desde que ele saiu daqui. E me ligou 3 dias antes de partir para o Rio, para saber de mim, etc. e me ligou novamente, 2 dias antes de partir para o Rio, para desejar Feliz Natal e ficou meia hora de papo. E 2 dias depois, esquece que tem um cara apaixonado por ele em Porto Alegre e posta toda aquela merda? Pode não ter feito por mal, mas esqueceu de mim muito rápido. É muito egoísmo.
Seja qual for a hipótese correta, nenhuma delas me serve.
E a gota d’água veio no domingo de manhã. Além de mais fotos (sempre dele, não do ex), ele também postou um texto de Rubem Alves, muito lindo, “O tempo e as jabuticabas”. Nele, o autor relata que já passou da metade da vida (mais uma vez a questão do tempo que passa), e que não tem mais tempo para perder com futilidades, que agora vai direto buscar a essência das coisas. Contextualizando, vi mais uma vez que eu estava no pacote das futilidades, a essência, para ele, estaria lá, ao seu lado, no Rio. E tomei uma decisão: enviei uma mensagem pelo cel, onde disse saber que ele compreenderia, mas que havia acabado de bloqueá-lo no face, que quero que ele seja muito feliz, e deixei um abraço com todo meu carinho.


A resposta veio em 10 segundos: “Ok. Feliz ano novo”.

(Continua)


sábado, 28 de dezembro de 2013

MANIPULAÇÃO, COMPREENSÃO E ... PERDÃO? (parte I)



Continuando...  Dia seguinte, ele postou uma foto da sacada do quarto deles, com a legenda... FELIZ! Pela tarde, sinalizou no face que estavam em um restaurante...  Hoje, postou várias fotos - em uma delas o ex aparece – com a legenda “o Rio de Janeiro continua lindo” (talvez devesse estudar sobre as reis condições que levaram Gil a compor essa música).
Começo a identificar alguns padrões no pouco que sei sobe sua vida (e a maior parte contada por ele): quando começamos a conversar, ele foi passar uma semana na Bahia com outro “amigo de sexo” para ver se rolaria um namoro ou não. Combinamos de não trocarmos mensagens enquanto ele estivesse com o outro, afinal... (mas agora percebo que essa proposta partiu de mim). No terceiro dia ele me liga, dizendo que já viu que ficaria somente na amizade lá. Mas ligou escondido do amigo, quando este desceu para o café da manhã, ele avisou que teria de desligar (sim, a pergunta “como eu não percebi?” está rondando minha mente, nesse momento, acompanhada da ilustração de um burrico). Fiquei me sentindo especial. Algumas semanas depois que voltou da Bahia, respondeu uma mensagem minha do banheiro do motel em que estava com outro cara. Mas éramos somente amigos: não dormi direito aquela noite, mas não tinha direito a ciúmes. E me senti razoavelmente especial. Só não me senti especial quando percebi que, além de chegarem mensagens ao seu cel durante toda noite, na minha casa, de manhã ele levava o fone para o banheiro.
Quem vê as fotos da Bahia crê que ele foi sozinho, ninguém mais aparece lá. Assim como as de Porto Alegre (fizemos fotos juntos, mas nenhuma foi postada e, fato curioso, nem enviadas para meu e-mail, conforme pedi mais de uma vez). Ele tem todo um cuidado em não deixar rastros.  Do mesmo modo, as fotos dos primeiros dias no Rio o mostravam sozinho. Agora o ex apareceu em uma, mas de costas, podendo ser tomado por outro turista visitando o local.
O que quero dizer com isso é que há toda uma dedicação para sua imagem pública, via facebook (seu comportamento chega a ser “adolescente”: quando esteve em Porto Alegre não podíamos sentar um café que ele queria postar onde estávamos... Ou onde ele estava, uma vez que eu era “limado”). Também não gosto de exposição desnecessária (tanto que uso um pseudônimo aqui), mas... Ele ostenta todo um discurso de “ser de cara limpa” que não fecha com um cuidado que, de tão excessivo e meticuloso sugere esconder-se.
Como eu disse antes, quase tudo o que sei dele (portanto toda a imagem tão positiva de sua pessoa) sei pela sua própria boca. E sou obrigado a reconhecer: ele é bom em fazer autopropaganda sem parecer que está fazendo. É administrador de empresas, especializado em life coaching: é uma segunda natureza para ele fazer as coisas (mesmo da vida privada) de um modo que conduzam à construção e uma imagem pública positiva. Como para um ator (puxando para minha área) é segunda natureza saber entrar em um ambiente chamando a atenção de todos para si, sem que tenha de fazer algo escandaloso ou que demonstre ser essa a intenção. Percebo agora que o paulista vive para sua aparição pública, trabalha com network, está fascinado pelas novas tecnologias da comunicação, incluindo redes sociais e... Está ficando velho. E está assustado com isso, tentando manter sua jovialidade! E eu compreendo isso, porque a passagem do tempo realmente assusta, quando ela começa a mostrar-se em nosso corpo e em nosso rosto.
Mas ele está atropelando a sensibilidade alheia, não apenas a minha, houve o cara da Bahia, houve o rapaz do motel, que se apaixonou por ele (essa história retomo depois), sabe lá quantos mais (nem dá para rastrear, ele apaga os rastros, não é?). E isso eu não admito!
A dor, o medo e a carência podem nos levar a fazer coisas ruins, corroem fundo a nossa alma. Começo a entender como ele sente-se pequeno diante de tudo, apesar de bancar essa imagem muito independente e segura de si. Ele completará 50 anos em 2014, os filhos - pelos quais lutou e sofreu muito -, estão adultos e saindo de casa. Ele está assustado. Sente que seu tempo está acabando (ok, eu acho que não, mas ele está sentindo “a água bater na bunda”). E eu começo a compreendê-lo, e a desmitifica-lo, a vê-lo dentro da pequenez humana da qual fazemos parte todos. E o prazer (perverso?) que senti ao começar a perceber tudo isso se esvai e começa a se transmutar em compreensão.
É preciso esclarecer que a compreensão não tem a ver com “justificativa” ou com aceitar o que essa relação (seja ela de amor ou de amizade) tem de abusiva. Significa ver com clareza, tanto para o bem quanto para o mal, tanto para aceitar quanto para dizer “Isso eu não tolero! Sem negociação!”.
A compreensão é clareza de visão!
Ainda o quero bem, mas agora sei (um pouco) mais claramente o eu nele me desperta esse sentimento.
Mas (um pouco mais) claramente já percebo ações egoístas (compreendo também o que o motiva), manipulações, etc. e não Quero isso para mim! NÃO ADMITO! Quero coisas boas, MEREÇO! O que me é oferecido, nesse momento, nessa relação, quando não é desrespeito é falta de sensibilidade, sob um disfarce de honestidade. O que me é oferecido de bom É POUCO!
A compreensão permite que esses dois sentimentos habitem dentro de mim sem causar tanta confusão, porque quando estou confuso, não sei em que sentido agir, em que direção seguir. E sigo, com toda segurança. Entendeu, paulista? Você está morrendo dentro de mim, e não é sem tristeza que escrevo isso, porque eu reservei o melhor de mim para te dar, mas você não ficou para receber. E não seja ingênuo de pensar que oque eu tenho de melhor caberia naquele final de semana que você passou aqui... Não, decididamente não. Você pode ter curtido o que encontrou aqui, mas saiu sem fazer ideia do quão amigo, carinhoso, companheiro, puto e macho eu posso ser. Acredite, você partiu sem ter visto uma mínima parte de quem eu sou. Acho que boa parte da dor se deveu a isso: não houve interesse de se deter um pouco para ver melhor. Mas entendo que você não tinha tempo, porque está angustiado demais, pensando que seu tempo está acabando.
Outra consequência da compreensão é que já não me encanto com a nuvem de glitter que você joga sobre si mesmo, seja criando expectativas de que seja um grande amante, seja na sua imagem de homem ético, etc. Agora, no lugar de correr em sua direção, paro em silêncio à sua frente, esperando a poeira brilhante baixar, para ver a pessoa desnuda que restará diante de mim; essa sim, terá de me encantar.
Porque não quero perder a capacidade de me encantar pelas coisas, NÃO QUERO MORRER! E prazer de viver é encantamento: com o outro, com a natureza ao meu redor, com os fatos e aspectos da vida (inclui-se aí a dor). Até mesmo com os mistérios da morte! Mas quero me encantar pela magia pessoal de quem está à minha frente, não pelo truque barato de prestidigitador. Como escrevi antes, EU MEREÇO MAIS!
Eu estou virando a mesa, paulista. Se é que continuaremos desenvolvendo uma relação (seja de amor, seja de amizade: ambas necessitam cultivo, atenção e condições dignas para que floresçam), quero ver a pessoa à minha frente. Não me satisfaço mais com ... Não chamaria de máscara o que tive de ti, posto que o me encantou na tua pessoa não é totalmente forjado, apenas desmedido, exagerado e “editado”, ocultando certos aspectos e fragilidades.
Uma vez tu te desnuou para mim diante da webcam, dizendo “fiz isso para te mostrar que sou de carne e osso”. Pensando nisso, agora, digo que não: tu me mostrou tua carne (não tinha como mostrar os ossos, rsrsrsr), para ocultar tua humanidade, ocultar o quão pequeno te sentes diante da tua vida. Mas agora eu entendo isso. Momentaneamente sem ressentimentos. (continua).


A imagem é “The therapeutist”, de Magritte

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

ENTÃO ELE FOI PARA O RIO

Segunda-feira (23), acabo de deixar minha filha com a mãe e caminho rumo ao ponto de ônibus, pensando que ele não fez mais contato em 7 dias, que era uma pena, uma sensação de perda, de que houve uma história, mas que ela teve sua conclusão. Nesse momento, toca o telefone. Para minha surpresa, era ele: estava na estrada, a caminho de São Paulo onde passaria o natal com familiares, conversamos muito, queria saber como estou, de meus projetos, etc.
Percebo uma mudança em mim: apesar de o coração ter disparado, noto eu ele não alimenta muito a conversa, eu conto de mim, ele dá sua opinião sobre as minhas coisas. Eu pergunto dele, as respostas não são longas, e logo o assunto tem de ser preenchido por mim, com minhas coisas. Seus comentários são de aprovação para oque estou fazendo... Mas quem pediu que ele os avaliasse? Percebo que já não sou o mesmo com ele, embora esteja contente com a demonstração de atenção dele por me ligar.
Ao mesmo tempo, parte da minha mente avisa: não seja ingênuo, ele não te valorizou, ele se sentiu só na estrada e sabe que terá atenção, bom papo e gentileza da tua parte. Isso não é valorizar, é servir-se. Ele não te ligou toda semana. Após uns 15 min de conversa, vejo que a filha vem pegar o ônibus com a mãe, vão passear. Aviso que ela chegou e que ligarei dentro de alguns minutos. Embarco no mesmo ônibus que a filha, desço 10 minutos depois e ligo para ele. Chama até cair na caixa postal, por três vezes. Mando mensagem de texto, avisando que liguei, mas não fui atendido. Umas 5 horas depois chega mensagem dele, dizendo que desembarcou em SP e esqueceu o cel no carro, por isso não ligou (difícil acreditar, aqui até para o banheiro ele levava o celular).
No dia seguinte, véspera de natal, novamente depois de eu ter deixado a filha na casa da mãe, passando pela mesma esquina, toca o telefone: ele!
Me ligando da casa dos familiares, para desejar feliz natal, de novo quer saber como estou, como está minha filha, puxa assunto. Conversamos uns 30minutos (Valeu, TIM). E eu desligo pensando o que ele queria comigo, me liga dois dias seguidos, faltando 5 dias para encontrar o ex no Rio de Janeiro (passarão o Reveillon juntos, mas não sabia direito o dia em que iria para o Rio). Durante a conversa percebo que ele tem um tom estranho, meio melancólico. Como se quisesse dizer algo, ou como se esperasse ouvir algo que não está ouvindo. E mais um mecanismo em mim se põe em funcionamento: começo a buscar o que ele estaria esperando, ou procurando nessa ligação, para dar a ele o que buscava. E percebo que esse é um de meus problemas: quero atender ás expectativas das pessoas comigo, e fico angustiado quando não sei oque esperam de mim, pois aí não sei o que fazer ou como me “moldar”. Vai ter falta de personalidade assim na PQP! Mas reconheço um mérito: nesse dia tive consciência na hora. E parei de procurar, deixei a conversa rolar. Uns 5 minutos depois, ele decidiu desligar. E eu fiquei agitadíssimo. Como no dia anterior, e eu ele também ligou, fui dormir às 4hs da madrugada.
Então hoje entro no face e... Está lá, postado: “Partindo para o Rio. FELIZ!”. Doeu pra caralho! Não só saber que ele e o ex passariam a noite toda transando como eu gostaria de estar transando com ele, mas também porque ele postou aquilo no face, sabendo que eu iria ler. Assim como postou sua chegada a Porto Alegre, quando veio me conhecer, sabendo que seu ex veria aquilo e suporia que ele vinha ver algum homem. E enlouqueceria, como enlouqueceu, enviando mensagens enquanto estávamos aqui (mas isso é um capítulo à parte, próxima postagem).

Duas horas depois, “Chegando ao Rio. FELIZ!”.  Depois, em torno de 1h da manhã posta foto da Lagoa Rodrigo de Freitas iluminada. Tudo bem, não sou o centro de sua vida mas... Custa lembrar que eu vou ver isso? De que se ainda somo amigos, não vou te bloquear e que estou ainda sentindo tua falta? Precisa tripudiar? Ou tornar tão pública tua felicidade é uma necessidade tão grande que me ferir é menor do que isso? Essa é a amizade que ele tem para me oferecer? (continua)

A SEGUNDA CHANCE

Há uns10 dias (não lembro exatamente) o paulista me procurou por dois dias querendo conversar pelo face. Quando me achou online, logo queria telefonar. E eu estava em um momento “não vou correr atrás nem me mostrar tão acessível”. Mas por dentro fiquei faceirinho, lembrança que agora me irrita profundamente. Resultado: ele queria me contar que no final de semana anterior o ex foi a SP para encontra-lo, que conversaram por dois dias e que ele resolveu dar um anova chance para ele, que passariam o Reveillon no Rio.  




Não sei que porra de mecanismo que eu tenho, que no momento (para não desmontar) eu só conseguia pensar “pelo menos ele está sendo honesto comigo”. Logo ele veio com seu princípio atual de vida (como qual eu concordo, embora ache que ele o está repetindo demais, o que me deixa desconfiado) de que devemos viver um dia por vez, sem criar expectativas, com oque tem par ao dia. E eu, num momento raro, falando pouco e medindo muito bem as palavras, sem tentar ser agradável, nem intencionalmente desagradável: apenas tentando identificar, antes de falar, o que estava sentido. Já escrevi antes que meu emocional, por vezes, se esconde tão bem, que ajo como se tudo estivesse legal, e só muito depois vejo que fiquei destroçado. Dessa vez não quis cometer esse erro, era algo violento demais para mim. E ele com o papo de “um daí de cada vez”, dando receitas de bem viver, até que finalmente disse “e não precisa ter sofrimento algum”. Foi quando nuvens se abriram no céu, soaram trombetas e uma voz soou, dizendo: PARA ESSA PORRA, CARALHO! Mas, externamente, o que se ouviu foi apenas o meu longo e constrangedor silêncio. Tão constrangedor que, após um tempo, ele disse: mas você ficou travado, não é?


Não precisa sofrimento? Então comecei a falar, num tom de voz calmo, macio e sem me alterar (quem me conhece sabe que se isso acontece o Robô de “perdidos no Espaço” começa a agitar os braços a e a gritar PERIGO, WILL ROBINSON!!!). E comecei dizendo que não, EU não estava travado, apenas medindo as palavras. E que esse novo hábito de pensar melhor antes de falar foi um das consequências da passagem dele pela minha vida, e logo ele quis me interromper para dar sua opinião/conclusão do que eu estava falando, e eu não deixei dizendo “eu vou acabar, agora quero que tu me ouças”, e ele forçou dizendo que só queria complementar, avisei que ele iria complementar quando eu terminasse e continuei... Por cerca de uma hora. 

Contei tudo pelo que havia passado, trouxe a questão de que realmente ele não me prometeu nada, mas de que também foi ele quem forçou até sair do jogo inicial de amizade com sexo (dizendo que era em mim que pensava durante o dia, e coisas do gênero). Tudo o que não havia dito antes, com medo de faze-lo correr léguas para longe, dessa vez falei. Quando acabei ele estava chorando, disse que me ama como amigo, que não quer perder minha amizade, etc. Também não quero perder a dele, isso é um fato. Mas terminei a noite com a sensação de que não fiquei escondendo o jogo com medo do que pudesse vir a perder. Mas passei o resto da semana doído, com uma tristeza que ia e vinha, em ondas (continua). 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

AI MEU DEUS, ELE É BI!!!!!

Tendo sido casado com uma mulher, e não tendo me separado porque me descobri gay (já namorava homens desde os 18 anos e comecei a namorar minha ex aos 29), ao recomeçar a sair com homens, após a separação (sou monogâmico), percebi, para minha surpresa, o preconceito ou mesmo receio implícito que paira sobre a questão da bissexualidade. Já tive encontros cancelados em que o moço fez questão de ressaltar que “não era por causa do meu passado” (só o eufemismo usado já mostra o receio de abordar a questão. Como Lord Voldemort sendo chamado de “aquele que não deve ser nomeado”). Vi amigos e encontros abordarem a questão “cheios de dedos”, com falas como “Então... Tu foste casado com uma mulher... Quer dizer que tu és... Bissexual?”. Sempre um receio de tocar no assunto, ao mesmo tempo em que uma necessidade de falar sobre isso. Como era com a homossexualidade há pouco tempo (e ainda é, em certos círculos): uma aura de mistério e de medo. Só que entre gays... Uma reprodução de situações que já passamos entre héteros. Será a bissexualidade um novo tabu?
Um rapaz com quem saí na semana passada me disse que o mal estar em relação aos bissexuais se daria pela possibilidade de perder o cara para uma mulher. Ou, como ouvi de uma menina com quem fiquei aos 19 anos e que “esfriou” assim que soube, através de um amigo (que também é gay, e teve necessidade de correr a contar a ela, quando foi ao banheiro): “como vou ficar contigo, se ao mesmo tempo podes estar cuidando um cara?”.
Resposta para a primeira situação: perder a pessoa amada dói, independente de perder para um homem ou para uma mulher. Talvez quem sofra mais seja o orgulho, o ego vaidoso. Ou não: se um cara perde seu namorado para uma garota (na verdade, não perdemos as pessoas para outras: simplesmente as perdemos. A relação se fragiliza a ponto de não se sustentar, o eu pode permitir a entrada de entre um terceiro elemento, mas esta é posterior à fragilização). Mas, enfim, se o cara “perde” o namorado para uma garota... Talvez o tal namorado estivesse em outra, querendo uma relação com uma mulher, coisa que seu parceiro não poderia suprir. A questão já é externa a quem foi deixado, não há por que se culpar ou sentir humilhado (infelizmente, ainda tratamos relações de amor como uma questão de competência em “segurar o parceiro”).

Resposta para a segunda questão: se eu estiver a fim de um cara, nem vou ficar contigo, garota.  Vou atrás de um cara. Simples assim. Mas se estou contigo, estou contigo. Não vou te desrespeitar. A garota em questão não acreditou, e a história, que estava gostosa, melou. Mas isso foi problema dela, se não estava em condições de lidar comisso, não servia para mim. Se houvesse mais tempo e envolvimento, quem sairia machucado e desrespeitado seria eu.

Para o momento, era isso. 

Abraço de urso!

PASSIVO OU ATIVO?

Comecei a fazer as pazes com essa questão no final do ano passado. Já havia desempenhado os dois papéis desse os 18 anos, ainda assim percebia um “desconforto moral” nisso tudo. De algum modo , sempre pairava uma imagem relacionada a “ser machucado” (embora eu nunca tenha sido): como alguém poderia gostar de ser machucado? Relembrando como soube do sexo anal, entendo o motivo: quando criança, tentando nos ensinar a nos protegermos de abusos de crianças mais velhas (inclusive no banheiro da escola), minha mãe nos contava relatos horríveis, que resultava em imagens de ”sangue, excremento e tripas ‘saindo para fora’ (perdão pelo pleonasmo). Eu tinha 5 anos e não sabia nem o que eram tripas, pensava que fossem ossos. Resultado: nunca fui assediado no banheiro da escola, mas o mal que esse tipo de relato me fez... ainda estou me limpando dele, rsrsrsrs.
De todo modo cresci, me descobri gay e chegou o momento em que tive de encarar que tinha queria experimentar esse papel. O encarei, mas cheio de receios: sempre ficava no comando, por medo que o cara me machucasse. Não me entregava para o ato.
Percebo agora que também havia uma carga de imagens que invalidam a masculinidade para quem transa passivo (não curto esse nome, estou usando aqui por uma questão de praticidade: passivo é quem fica lá pardo, sem fazer nada, só esperando pelo outro. Eu chamaria isso de “ruim de cama”, mesmo. Enfim... continuemos). Tanto que algumas expressões se referem a isso são “fazer o outro de mulher” e coisas do gênero. Já vi conversar entre casais gays onde um amigo pergunta: mas qual de vocês é o homem e qual é a mulher. (!!!!!). Resposta: os dois, nenhum. Olha o padrão heteronormativo aí! Isso sempre me incomodou, pois não abro mão de minha masculinidade, gosto dela, não pela preocupação de “não dar na vista que sou gay”. Por uma questão de identidade, de curtição... sei lá, é assim que me gosto. Mas isso parecia colidir com permitir (e desejar) ser penetrado pelo parceiro. A tal ponto isso virou um bloqueio para mim, que parecia que penetrar o outro era fazer mala ele, daí... houve ocasiões em que ocara queria ser penetrado por mim e eu não conseguia, porque sentia que estaria fazendo mal a ele, fosse machucando-o fisicamente, fosse relegando-o a um papel indigno (haja terapia!!!).
Foi quando percebi como faltam representações culturais mais poéticas ou dignas do papel passivo (Ok, vamos chamar de “receptivo”, daqui por diante. Não consigo escrever passivo sem ficar incomodado). Boa parte dessa confusão se dissolveu quando assisti ao filme “Triângulo amoroso”, (Drei, Alemanha, de Tom Tykwer – de “O perfume” e “Corra, Lola, corra”). Nele aparece uma cena extremamente sensível, bela e erótica do momento em que os rapazes transam e um deles é receptivo pela primeira vez. Assistir à bela representação desse ato desfez muita confusão na minha mente.
Por hora tenho de parar, preparar almoço da filha, etc. Gostaria de continuar essa reflexão, seja nos comentários, seja em nova postagem.
Como o filme não se encontra na maioria das locadoras, é mais “cult”, deixo aqui o link para que precisar baixa-lo.

http://www.acheidownload.biz/?s=tri%C3%A2ngulo+amoroso

Abração e, novamente, obrigado pela visita.

VIVA A DIVERSIDADE, MAS... EM QUAL RÓTULO VOCÊ SE ENCAIXA, MESMO?

No domingo passado estava eu num café, digerindo a questão do paulista (Não, hoje não é sobre ele que falarei... Me dei uma folga, o que é parte do processo de cura), quando ouvi a conversa de 5 ou 6 rapazes sentados na mesa ao lado. Não que eu costume ouvir o papo dos outros, mas as mesas eram realmente muito próximas, daí...
Eram todos gays, na faixa dos 30 anos, e o diálogo foi mais ou menos:
-Eu realmente fico desconcertado... Tento entender, mas isso não entra na minha cabeça. Porque ele (vamos chamar de X) primeiro namorou o Felipe... e depois namorou o Carlos. Não adianta, eu não sei como lidar com isso. Não estou conseguindo deixar rolar naturalmente.
- É, às vezes saber muito da história da pessoa até atrapalha.
E por aí seguiu o papo. Por mais que eu respeite a privacidade alheia, já estava curiosíssimo para saber qual era a questão: será que Felipe e Carlos foram namorados no passado, e o rapaz de quem falamos namorou um depois do outro, causando ressentimentos?
Não, nada disso. No desenrolar da conversa, descobri que o tal Felipe é exclusivamente passivo, e o Carlo, exclusivamente ativo. Logo, X era o quê? E o rapaz que iniciou a conversa estava ficando com X, e estava curtindo, mas não conseguia deixar a coisa fluir porque não conseguia conceber o X sendo passivo om um e ativo om outro. Num certo momento ele chegou a verbalizar:
- Eu também acho que o ideal seria se se todos fizessem os dois papéis, mas... (e não terminou a frase).
Isso me fez pensar no meu pai, que faz um esforço danado para respeitar a homossexualidade do filho, mas não a entende, porque ele gosta de mulher (ao mesmo ele assim afirma, rsrsrs) e tem dificuldade de entender como outro homem pode gostar de outra coisa. Mas ele tem 70 anos e vem de outra geração. Ao ver rapazes gays mais jovens que eu (tenho 42) numa situação paralela a essa, penso m duas questões:
1.       Na dificuldade que temos em aceitar o “diferente do padrão”, mesmo que nós, de algum modo, também sejamos diferentes de um padrão hegemônico. O fato de estarmos fora de um padrão nos coloca totalmente libertos de condicionamentos, mas revela que desdobramos rótulos e classificações dentro da cultura da minoria ou diferença da qual participamos. Não nos conformamos ao padrão hegemônico segundo o qual um casal só pode ser formado por sexos diferentes, mas (muitos de nós) ainda concebemos as relações formadas por dois homens como condicionadas á identificação em papéis diferentes, bem distintos e FIXOS.
2.       O chamado papel “passivo” permanece envolto numa aura de mistério e um tabu. Algo nele ainda incomoda.
Sobre o primeiro ponto, lembrei de Carlos Scliar, um autor que pesquisa a questão da diferença, quando este diz que nossa maior dificuldade está em conceber os lugares de fronteira, ou os “entre lugares”: É homem ou é mulher? É hetero ou é gay? É ativo ou é passivo? E por aí vai. Fiquei pensando no dilema daquele rapaz do café: ele encontrou um cara legal, de quem estava gostando, eles estavam se encontrando e, pelo que entendi, as coisas estavam gostosas... Mas ele estava se travando porque tentava imaginar o rapaz fazendo outro papel, diferente do que desempenhava com ele nos encontros. A transa entre os dois estava boa, o fantasma era o que X havia feito com outro homem, no passado. Tive vontade de contar ao rapaz eu, mesmo quando sou somente ativo com dois homens diferentes (ou quando sou somente passivo) não estou desempenhando o mesmo papel: o jogo é único, fruto da química entre os jogadores. Não sou ativo do mesmo modo com A e com B, a única coisa em comum é que sou eu que introduzo o pênis no parceiro, mas que a partir disso existe todo um universo, variações, infinitas possibilidades no modo de as coisas acontecerem.
E que sendo oque hoje em dia se chama de “versátil”, o parceiro ideal para mim também teria de ser versátil. Se concordo em ficar apenas em um, porque meu parceiro não é versátil, é porque a companhia é realmente especial. Não se trata de “me conformar”, mas de considerar a companhia tão rica que compensa a limitação de papéis. Portanto, se X gostou de comer o fulano e de dar para o beltrano, isso pouco importa. Queria ter dito àquele rapaz que o fato presente é que X estava encontrando-o, repetidamente, portanto esta curtindo sua companhia. O está valorizando. Mas não está sendo valorizado, e isso pode pôr toda uma história legal a perder.
Esse ponto do “entre lugares” me remete também á questão da bissexualidade, mas sobre isso escreverei em outra postagem, para não perder o foco.
E como o texto está ficando longo, tratarei do segundo ponto na próxima postagem.

Abração a todos!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Tempo de cura

(Esse texto foi escrito no sábado, dia ..., sentado em um café na Rua do Brique da Redenção  - para quem conhece Porto Alegre. Por falta de tempo, somente hoje consegui postá-lo).

De repente uma onda de tristeza me invade... Penso n paulista de novo. Não queria, quero acreditar que não me apaixonei por ele, ou que ele não é como imaginava... Algo que o invalide e faça essa falta passar rápido.
Será que essa falta é dele ou é uma lacuna eu tenho dentro de mim e que dessa vez pensei que a pessoa dele iria preencher?
Será que sou um chato escrevendo isso? Será que vão me achar um porre lendo isso? Essa é uma das questões: passei a maior parte da minha vida tentando encontrar uma forma de “ser ao olhar do outro”: 1º ser aceito, depois de ser desejado, de ser bonito, de ser querido, e daí por diante... Mas não aprendi a simplesmente “ser” (ok, talvez eu e toda civilização ocidental). Isso me faz lembrar um trecho de “Mutações”, de Liv Ullman:

“O tempo todo estou tentando modificar-me. Pois sei que existem outras coisas bem diferentes daquelas que conheci. Gostaria de caminhar para isto. Encontrar a paz, de maneira a poder parar e escutar o que está dentro de mim, sem nenhuma influência”.

De todo modo, o que faço para deixar essa dor e essa falta que não sei exatamente onde reside, que assume a forma dele mas que não tenho certeza que se inicie na pessoa dele ou que nela isso de fato se solucionaria. Mas o fato é que existe uma dor... Que está doendo.
Sei que as dores de amor (ou de paixão) passam... Tenho uma amiga que se encerra em casa por dias, chorando, a cada história que se vai... Para depois sair, vibrante e plena, na luta pelo sustento (dela e dos filhos), tocando a vida adiante.  Isso, “saber que passa”, no fim das contas me deprime: então tudo quilo de tão especial, tudo o que me senti especial, tudo o que aquela pessoa teve de especial para mim... Passa?! Se desfaz? Fica na poeira?!
Sim, quando comecei a me aproximar do budismo, buscava exatamente isso: compreender como prática diária de vida que tudo na vida é passagem. Mas se passa, quer dizer que não tem valor? Que o valor conferido àquilo é ilusório? Já não sei... Não por acaso busquei, como profissão, uma arte que é efêmera por natureza (sou ator e professor de teatro). O teatro só acontece, só existe, no momento da performance viva “diante de” e “em comunhão com” um ou mais expectadores. Antes e depois não é teatro: antes é expectativa, depois é lembrança. Mas com as relações será igual? O antes é expectativa, projeção, fomentado pelo desejo, fantasia criada pela imaginação. O depois é a lembrança do fato: a história foi escrita! Assim, do modo como aconteceu! E se não houver um “aconteceu de novo” ou o acontecimento de um novo capítulo, é porque teve seu ponto final. E esse pode ser o momento de luto e tristeza. Ou do reconhecimento do choque entre expectativa e fato, entre o que era esperado e o que aconteceu. Talvez eu sofra por constatar que não teremos “novos capítulos”, que seriam as novas chances de complementar as lacunas entre fantasia e fato: “Sabe quilo que eu não curti tanto, embora pensasse que curtiria? Então, num próximo encontro eu esperava descobrir que, realmente, era bem como eu havia fantasiado”. NÃO!!!! É o que foi! Me decepcionou? Então tenho de encarar que me decepcionou!
Esses momentos de sofrimento me conduzem sempre a um mesmo ponto: TRABALHO SOBRE SI!  A cada vez que isso acontece, descubro mais sobre mim mesmo, ou sobre meus processos, e descubro mais pontos que preciso trabalhar (ou volto a velhos pontos já conhecidos, só que de um modo diferente). Minha recusa em reconhecer quando me decepciono com pessoas por quem sinto algum tipo de afeto (desde a amizade, a paixão ou admiração profissional) é tamanho que, por vezes, chego a imaginar uma explicação que justifica o outro, quando ele não está nem aí para o fato de me haver magoado.
Faço isso porque sou bonzinho? NÃO! (Até sou bonzinho, mas aqui creio que o motivo seja outro). Faço isso porque tenho um dominador por dentro, e ele não aceita que as pessoas sejam diferentes daquilo que imaginou: não aceita um “não sou do modo como você pensa que eu deva ser!”, dito através de atos mais do que por palavras, e fica forçando, dando–lhes mais uma chance de provar (ou de descobrirem) que no fundo são bem como ele imaginou que devam ser.
Obviamente esse dominador não domina ninguém além de mim mesmo, impedindo (ou atrasando) que eu parta definitivamente de experiências que me frustraram (seja por não ter tido o retorno afetivo esperado, ou por falta de afinidade sexual, ou por qualquer outro motivo). PORRA!!!! ME FRUSTROU!!! Não fiquei satisfeito, ou não fiquei tão satisfeito quanto imaginei que ficaria! Se não fiquei satisfeito, era que quem deveria estar partindo, no entanto, fico ali, sofrendo porque a pessoa não quis aproveitar a 2ª chance que eu lhe dei para ser como eu havia sonhado! (Onde se desliga isso?!).
Nesse momento estou sentado em um café na rua do Brique da Redenção (para quem conhece Porto Alegre), num lindo sábado ensolarado. Vim toma rum café e ler um pouco, para espairecer dessa dor... Na chegada senti necessidade de escrever, fui comprar caderno e caneta e... Vejo a vida passando à minha volta, o tempo todo... Agora “caiu essa ficha” do dominador interno (ela não é nova, á havia aparecido antes, com outra roupagem). E a partir dessa percepção, não tenho mais o que dizer, para esse momento. Preciso refletir e sentir (não necessariamente nessa ordem) para depois voltar a escrever sobre isso, porque são águas profundas, que agora se acalmaram. Preciso mergulhar nelas!

Abração, e obrigado pela visita.


PS- Isso foi escrito há 4 dias, mas só pude postar hoje. Ontem pela noite, o paulista me ligou, para contar que o ex-namorado que o machucou tanto o procurou várias vezes, queria conversar. Contou também que no final de semana em que estava em São Paulo (capital) se encontraram, e ele decidiu dar uma chance de reaproximação, passarão alguns dias juntos no Rio, para ver qual é a situação. Gostei da honestidade, mas ... Ainda estou digerindo isso tudo. E certamente logo terei muito para escrever. Mas, de um modo ou de outro, começou o período de cura.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Homem apaixonado... PARTE IV (e última)

Encerrei a última postagem há 3 ou 4 dias atrás com “continuo pela noite”. Então, final de ano letivo, professor enlouquecido, filha requer atenção, pai dorme enquanto faz filha dormir. Assim, passarem-se os dias (ops, teve um “pai-sai-para-jantar-e-conhecer-novo-moço” também).
E nesses dias que se passaram coisas aconteceram, dentro e fora de mim. E novas “ondas emocionais” passaram por aqui, algumas fichas caíram, questões ganharam ou perderam importância. Quinta-feira, durante um conselho de classe, repentinamente percebi como estou desgastado com toda a administração da casa. E fiquei me perguntando se atualmente tenho “espaço” dentro de mim para um relacionamento. E se o paulista não viu isso ou percebeu como estou sobrecarregado e, nesse sentido, teve mais discernimento a respeito da minha vida do que eu estava conseguindo ter. E veio a culpa, com pensamentos ao estilo “eu rateei, permiti entrever o que não está tão bem na minha vida e ele não quis ficar”. Quando me pego com esse tipo de pensamento me sinto uma mocinha casadoira dos anos 50, daquelas cujo objetivo na vida era agarrar um marido, e sinto vontade de me mandar á merda! Ele não ficou porque não quis ficar, e isso talvez já estivesse decidido, no seu íntimo, antes mesmo de aterrissar em Porto Alegre. Minha vida é imperfeita, como a de todos. E uma vez que quero ser amado pelo que sou, e não pelo que a pessoa imagine que sou... Nem preciso continuar, não é? O que o levou a não querer ficar na minha vida nunca saberei, mas posso saber mais de mim, nesse processo todo. E duas coisas ficaram claras:
1º) A barra está pesada, estou cansado, desagastado porque agindo em várias frentes: profissão, primeiro ano de sustento da casa sozinho no que antes era dividido por 2, ano com muitos acontecimentos (que incluem 2 mudanças de apartamento em poucos meses), administrar a própria vida emocional e o retorno à vida de solteiro e aos relacionamentos com homens, estar atento à vida emocional da filha com todas as mudanças, administrar as rotinas da filha... E por aí vai. Estou de língua de fora, o que é natural. Mas não tinha consciência disso, o que é perigoso. Estou encerrando meu primeiro ano de... (não quero chamar de 1º ano separado, pois é continuar vinculado a estar casado) “eu por mim mesmo” (a gramática que me perdoe). E posso me orgulhar do modo como consegui levar esse ano.
2º) De que dentro de mim mora um monstrinho ou um demônio que talvez nunca seja expulso, portanto, deve ser sempre mantido sob vigilância. Caso eu descuide dele, virá dizer no meu ouvido que eu não tenho mérito, que eu não posso ter falhas – caso as tenha, não serei amado por ninguém. Dirá também que tenho de me forjar naquilo que eu deveria ser, e o pior: o que define o que eu deveria ser não é o meu olhar, mas o olhar do outro. Como se, a partir do que percebo ser a busca do outro, eu tivesse de assumir essa forma. Vejam que armadilha isso! Se já é difícil estar atento a mim mesmo e saber o que eu quero, quanta pretensão querer saber o que o outro quer e nisso me transformar. Quanta anulação de mim mesmo, quanta atenção dedicada a descobrir “o que o outro quer” e “como me tornar isso em tempo rápido”, e quanto esquecimento de perguntar “o que eu quero?” e se “o que tenho à minha frente ainda atende ao meu desejo?”. Não é a primeira vez eu me deparo com essas questões, e já tenho mais definido o que quero, e sei que o paulista me marcou muito porque, em grande parte ele atende sim ao que quero em um companheiro. Mas também percebo que o pequeno demônio interno entrou em ação, quando descuidei, e veio com tudo. Olhando para trás, consigo relembrar alguns momentos em que tive consciência quando algo que não atendia ao meu desejo surgiu, junto ao paulista. Lembro que quase inconscientemente (ou seja, dessa vez houve um avanço, uma pequena parcela de consciência, tanto que recordo desses momentos) optei por não dar atenção aquilo e focar no eu estava me agradando. Aprendizados que levo para um aproxima vez, mas eu já devo trabalhar em mim a partir de agora, constantemente. Porque não se trata de um modo de me portar com possíveis namorados, mas sim de um modo de se relacionar com o mundo.
Acho que agora começou o tempo de cura. Que ele seja bem vindo!


Abração, e obrigado pela visita.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Homem apaixonado ou dependente emocional: onde acaba uma coisa e começa a outra? (parte III)


Isso aconteceu há duas semanas, de lá para cá, poucas conversas pelo facebook, para falarmos de como as coisas ficam: não ficam, no momento ele só pode me oferecer sua amizade. Descobriu aqui que está travado para relacionamentos, pois seu último namorado o machucou muito (isso realente eu já sabia, uma história de um ano atrás), pensou que conseguiria mas viu que não. Me acha um homem maravilhoso, apaixonante, se fosse namorar hoje seria comigo, etc... Só que não! Vamos deixar rolar, viver um dia de cada vez! Quer aproveitar o que a vida tem par lhe oferecer (ouseja, trepar com os caras de sua cidade e região, que estão mais “à mão”). Sempre sendo muito honesto, agindo de “cara limpa”. E não foi desonesto mesmo, só que é mais difícil esquecer um cara que concluímos não ser um canalha. Vamos manter a amizade (que é muito boa), vamos manter a putaria (o que não aconteceu), vamos manter a cara limpa! Daí segunda ele volta de viagem, me chama no Face para conversar, desabafa uma situação chata que aconteceu com a filha, conversamos, debatemos, ele está cansado demais pra ir pro Skype, depois de uma hora de conversa, diz que está exausto e precisa dormir. Eu fico por ali, acabo indo pro Skype conversar com um amigo e vejo, 50 minutos depois, que ele entrou também no Skype. Estava exausto demais para me ver, mas foi para lá com outro cara...
Bobagem? Posse? Ciúmes, imaturo? Possivelmente. Mas a questão que quero discutir aqui, depois desse (interminável) relato, parte da constatação do quanto eu me senti especial, valorizado por ele, pelo modo como ele me fazia sentir especial. A partir do momento em que ele bruscamente parou de fazer isso, a queda foi grande. E gerou muitas questões, na verdade, questões demais, numa profusão que me derrubou e confundiu por mais de uma semana: falha minha deixar nas mãos de outra pessoa o poder de me fazer sentir especial? Quão carente eu estou para fazer isso? Mas então não podemos nunca confiar e nos entregarmos ao outro? E os critérios para avaliar se podemos ou não confiar no outro? E tudo o que foi dito antes desse final de semana? Mas, seguindo por aí, não estou me vitimizando e me colocando num lugar indigno, do tipo “você prometeu e agora me deve isso!”? (Se tem algo eu não quero e não mereço é alguém me dando atenção porque “deve”).
AGORA QUE CHEGUEI NO FOCO DA DISCUSSÃO, MINHA FILHA ACORDOU, RSRSRS. CONTINUO PELA NOITE.

Abração!

Homem apaixonado ou dependente emocional: onde acaba uma coisa e começa a outra? (parte II)


Quando compreendi isso, comecei a trabalhar toda essa questão das carências, expectativas, fantasias assumindo-as como minhas. Após o término do casamento, estava decidido a andar mais centrado, sem colocar a felicidade num outro. Até porque sabia viria uma longa fase de me desprender dos resquícios de uma relação longa: eu precisava redescobrir quem sou antes de poder me ligar de fato a alguém. Tinha lição de casa para fazer. E assim algumas pessoas passaram pela minha vida e pela minha cama, constituindo experiências mais ricas, em alguns casos, ou menos ricas, em outros. Até eu alguém me tocou de um modo diferente, e toda a conversa prévia de uma semana até ficarmos, de fato, juntos, me amaciou, me fez “baixar a guarda” e ver ali uma possibilidade de algum tipo de relacionamento. Eu estava levando bem minha vida sozinho, criando minha filha, me adaptando á nova situação (isso aconteceu 7 meses após a separação),mas quando me vi encantado por esse cara, percebi que me senti particularmente só. Não que faltasse companhia para trocar carinho e sexo, mas sentia falta de alguém eu me encantasse. E ali estava ele, me encantando.
 A primeira postagem desse blog foi feita em julho (em outro blog, posteriormente repostei aqui) quando eu sofria ao constatar que, após a noite juntos, cessariam as mensagens constantes por celular, os papos longos no facebook, e tudo mais do que tivéramos durante toda a semana anterior. Descobri que estava prevenido para a efemeridade dos encontros, mas disposto a “baixar a guarda” quando a pessoa me encantasse e houvesse indícios de abertura para que algo se desenvolvesse além do sexo e da noite gostosa. Me senti “sem chão” ao perceber que meus critérios para avaliar a situação não correspondiam à realidade, que quando você comenta “poderíamos ter vindo a esse restaurante” e ele comenta, te olhando no olho, “fica para a próxima”, não quer dizer que ele está a fim de ir te conhecendo, sem compromisso, mas de te ver novamente e permitir conhecer o que você tem de bom. E permitir que você conheça o que ele tem de humano, de legal e de não tão legal. Permitir descobrir que ele é de carne e osso.

Passados alguns meses, e me sentindo mais “gato escaldado”, a situação se repete. Foram 2 meses de papo através de um site (ursos), depois telefone (estava sem internet na época), depois Skype até que ele decidiu sobrevoar 3 estados para me conhecer, veio passar um final de semana em Porto Alegre. Nesses 2 meses, o que começou como papo de putaria foi se tornando amizade, compartilhamento de experiências e apoio (ele também separado, pai de dois filhos, já jovens adultos, brigou pela guarda dos filhos, etc). Chamávamos, inicialmente, de amizade com sexo. Compartilhávamos alguma experiência marcante que houvesse acontecido com outros caras, mas com o tempo isso foi mudando. E os indícios de envolvimento começaram a surgir, da parte dele, como dizer “E no momento minha aposta é você. Pronto, falei!”, e outras coisas do gênero. Discutíamos relações familiares, trabalho, posturas de vida, chegávamos a ficar duas horas por noite ao telefone (valeu, Tim!). Finalmente chegou o grande final de semana, finalmente aconteceu o grande final de semana (e foi ótimo) e... acabou o grande final de semana. Ele voltou para SP... e era isso. [continua]

Homem apaixonado ou dependente emocional: onde acaba uma coisa e começa a outra? (parte I)


A vida é passagem feita de encontros, tempo de convivência e despedida: o tempo de convivência varia de horas ou mesmo minuto até toda uma vida (que, em si, tb pode durar de minutos a muitas décadas). As relações se constituem disso, não apenas as amorosas-sexuais: também as de amizade e os laços familiares, e o desapego está em pauta, na atualidade, chegando a ser banalizado e virar palavra de ordem (numa aplicação simplista de um conceito mais profundo). E é esse o ponto que vem dando um nó nas minhas ideias, esse ano: a relação entre afeto e desapego, ou entre envolvimento, apego, dependência e posse. Que são coisas distintas, porém facilmente confundidas, e eu podem habitar ao mesmo tempo uma mesma pessoa ou situação.
Conheço minha dificuldade em me desligar de pessoas, situações e coisas. Sou, tradicionalmente, um cara atrasado. Por descaso com os meus compromissos? Não, por dificuldade em sair dos lugares de onde estou: chegava alguns minutos depois do horário no trabalho e saía muito depois da hora, ficava finalizando coisas, arrumando o espaço, enfim... Já estava trintão quando entendi que tinha dificuldade em me desligar dos ambientes. Com objetos, então, nem se fala: sou um acumulador. Em janeiro, ao me separar depois de um casamento de 12 anos, uma triagem foi necessária para fazer a mudança. As coisas que descobri guardadas em caixas, que eu nem lembrava haver mantido... Em alguns casos, isso chegou a parecer mórbido (como, por exemplo, constatar que além de ter guardado certos brinquedos da minha infância, guardei alguns da minha irmã, temendo que ela posteriormente viesse a se arrepender de tê-los jogado fora. Se isso não é mórbido, nada mais é, rsrsrsrs).   

O mesmo processo se dá, em mim, com pessoas: se tenho um encontro e um convívio bom, prazeroso, fico angustiado com o seu término, tenho dificuldade em seguir meu rumo e cuidar da minha vida. Quero garantir, ou deixar “alinhavado” algum tipo de continuidade. Claro que isso está ligado a uma grande ansiedade, e (principalmente quando se trata de um encontro amoroso) percebo que consegui amadurecer nesse sentido, passando de um estágio mais superficial e imaturo para outro, um pouco mais centrado. Inicialmente, eu projetava na pessoa toda uma expectativa, uma fantasia romântica que descobri ser fruto da minha carência. Parecia que finalmente eu iria realizar, com aquela pessoa, o meu sonho. Demorei a entender que, ao invés de realizar COM aquela pessoa, eu tentava realizar NAQUELA pessoa um sonho que, como eu escrevi, era meu. Ao outro acabava restando um papel indigno de coadjuvante caso alguma relação continuasse dali, não de coautor dessa relação. Além disso, me levava a conferir valor a pessoas que raramente o mereciam, pois eu não chegava a conhece-las, na verdade mal conseguia ver a pessoa que tinha à minha frente: via a projeção da minha fantasia sobre elas (o que me faz lembrar o ótimo “Mulher Moderna”, de Grace Gianoukas, http://www.youtube.com/watch?v=5FzZsh0lEF8 ). RESULTADO: frustração e sofrimento. [continua]

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Viva plenamente, mas não se envolva: o Papa fala, a filha dorme e o coração sangra

  
Na cozinha, meus pais ouvem o Papa pelo rádio, em sua visita ao Rio de Janeiro. Na sala, minha filha e meus sobrinhos dormem. No quarto, escrevo nesse blog porque, pela primeira vez desde que me separei, me envolvi afetivamente com alguém e com a "sorte de principiante", quebrei a cara (para esclarecer: não foi a primeira vez que fiquei com alguém). Na verdade, essa decepção afetiva foi o que me fez criar o blog, talvez para ver se existem outros homens como eu ou se sou mesmo uma anomalia.

´É tradicional em nossa cultura masculina o bloqueio à vivência afetiva, como se ela nos fragilizasse. Fragiliza mesmo, afeto significa que você é afetado por algo, que não fica indiferente nem incólume. O problema é que uma vez criados nessa dissociação entre afetividade e masculinidade, tendemos a introjetá-la. Quando descobrirmos que as coisas não são bem como nos ensinaram, mudá-las é um processo que se inicia na mente racional, mas tem um longo percurso no resto do nosso ser. 

Acredito que uma das condições essenciais para que nos tornemos homens de verdade não seja copular mas sim aprendermos a lidar com as próprias emoções, sentimentos e afetos. Por tabela, o que nos dá uma força de guerreiro seria exatamente o contato e o convívio com nossas fragilidades: estou farto de presenciar atos indignos cometidos por homens que ansiavam negar sua sensibilidade para se afirmarem como machos [sobre isso, tem o ótimo "Enter Achilles" - foto acima - do grupo de dança DV8: http://www.youtube.com/watch?v=5PFR2OXf9iQ]. E um dos mais indignos e violentos atos é cometido de modo "invisível", sobre si mesmo: não dar-se o direito a sofrer por amor. Digo isso falando de mim: mesmo pensando como exposto acima, não deixo de sentir constrangimento ao sofrer por alguém, quando choro, então... sinto vergonha mesmo estando sozinho. 

Essa semana, ao desabafar com uma amiga sobre essa história que não deu certo, me ouvi dizendo: "me sinto uma secretária solteirona reclamando da vida amorosa". Sem entrar no que há de machismo (introjetado) nessa imagem, me pego associando a uma imagem bem depreciativa o sofrimento por amor (ou afeto, se pensarmos que a história que originou tudo não chegou nem a configurar uma relação). Se nós, homens, não aprendemos a lidar com nossos sentimentos e temos dificuldades em expressá-los... Como fica uma relação formada por dois homens? Dificuldade em dobro? Como fica quando um consegue lidar melhor com isso, e o outro não?

E por "lidar melhor com as emoções", não me refiro simplesmente à pessoa conseguir se apaixonar. Por vezes, isso significa exatamente o contrário: entrar na dependência emocional não é amor nem paixão. É outra coisa, que precisamos investigar e que pode ter motivos diferentes para cada pessoa, mas que certamente será um peso excessivo para o outro (que já tem de lidar com as suas questões, não vai conseguir arcar com as nossas também). 

E "para ajudar", vivemos uma contradição: de um lado, o surgimento de novos modelos de masculinidade, ou a mescla de modelos até então contraditórios, que abrem espaço para a sensibilidade masculina. De outro, vemos a disseminação de uma discursividade "descolada" cujo princípio é não se apegar - seja homem ou mulher. 

Vejo os dois aspectos como amplos, plenos de potencialidades positivas, e restringi-los a uma interpretação maniqueísta, tentar identificar qual deles seria o bom e qual o mau, ou qual o melhor... seria limitador. Mas me parece que rola um atrito aí (ou pelo menos dentro de mim), que é essa eterna corda bamba entre permitir que a relação aconteça - no que isso implica de envolvimento e de confiança no outro - e preservar-se para não sofrer, ter de discernir a cada segundo se envolver de cair em dependência, entre ser um "apegado retentivo" e um "emocional de teflon"... Encontrar um caminho do meio... Só vivenciando e experimentando, e... me parece que não há como fazer isso sem deixar alguns pedaços pelo caminho.

Por hora é isso, tem desdobramentos do que escrevi aqui que me fazem pensar outras coisas.. material para novas postagens. 

Ah, se eu quis compartilhar isso com você, foi porque tenho interesse em dialogar sobre o assunto... sinta-se à vontade para manifestar pontos de vista diversos aqui, serão muito bem vindos. Toda unanimidade é burra, já dizia Nelson Rodrigues. 


Abração.

(Texto postado originalmente por mim em julho, em outro blog).